quinta-feira, 13 de setembro de 2012

S. JOÃO CRISÓSTOMO, Bispo e Doutor da Igreja - 13 de Setembro

Nasceu em Antioquia, capital do Oriente, pelo ano de 344. Em idade ainda tenra, perdeu o pai, comandante-chefe das tropas do império, na Síria. A mãe, viúva aos vinte e dois anos, cuidou de sua educação. O menino estudou com os mais hábeis mestres. Era tão admirável a sua eloquência, que lhe granjeou o apelido de Crisóstomo, ou boca de ouro. Desde os vinte anos de idade, advogou com extraordinário êxito. Por essa época, deixou-se levar ao teatro por complacência. Não tardou em avaliar o perigo que corria, e desde então começou a renunciar ao mundo. Vestido de uma paupérrima túnica, empregava a maior parte do tempo na oração, na leitura e na meditação da Sagrada Escritura. Jejuava diariamente, e era sobre o piso do quarto que desfrutava do pouco sono concedido ao corpo após tão longas vigílias.

Em 374, retirou-se para o meio de uns santos anacoretas que habitavam as montanhas vizinhas de Antioquia, e que, entre outras coisas, mantinham um silêncio perpétuo, resumindo-se-lhes a conversação na que sustentavam com Deus. Consistia-lhes o alimento num pedaço de pão e num pouco de sal; alguns acrescentavam a isso azeite, e os enfermos um pouco de ervas e legumes. Trabalhavam anualmente, fazendo cestos e cilícios, lavrando a terra, cortando lenha, aprontando a comida, e lavando os pés dos hóspedes, a quem, depois, serviam com grande caridade, sem dar-se ao trabalho de verificar se eram ricos ou pobres. Não tinham outra cama que não uma esteira sobre o chão. Tais eram os religiosos entre os quais São Crisóstomo fez um noviciado de quatro anos.

Em tal retiro, escreveu várias obras de piedade: seis livros do sacerdócio, três livros da defesa da vida monástica. Compôs sobretudo um pequeno escrito elegantíssimo, com o seguinte título: Comparação entre um rei e um monge. Põe nele, de um lado, um rei circundado de todos os sinais de grandeza, e do outro um monge na simplicidade do seu estado. Aquele se afigura, aos olhos do mundo, o mais feliz dentre os homens; a sua condição lisonjeia e ofusca os olhos; este, pelo contrário, passa por miserável ao qual não há quem queira assemelhar-se. Para mostrar que, não obstante, está em situação mais feliz que a dos mais poderosos príncipes, observa São Crisóstomo entre outras coisas que a realeza termina com a vida, e que depois dela os reis, tal qual o restante dos homens, comparecem ao tribunal de Deus para receber os castigos devidos aos seus pecados, enquanto o solitário surge com segurança perante tal tribunal.

Se os príncipes comandam os povos, os exércitos e o senado, o monge comanda as paixões, o que constitui um império muito mais importante. As vitórias alcançadas pelos reis contra os bárbaros são muito menos esplendentes que as alcançadas pelo varão virtuoso contra os demônios, inimigos muito mais temíveis. Um deles mantém um comércio contínuo com os profetas e os apóstolos, enquanto os príncipes só têm por companhia cortesãos e soldados; como, de ordinário, nos assemelhamos aos que frequentamos, os solitários pautam a vida pela dos apóstolos e profetas, ao passo que os reis imitam frequentemente os costumes corrompidos dos seus dignitários e generais; os príncipes pesam sobre o povo em virtude dos tributos com que os afligem, enquanto o monge faz, na medida do possível, bem a todos; os reis não podem dar outra coisa senão ouro e prata, ao passo que os monges conferem a graça do Espírito Santo; os primeiros, quando benfazejos, podem, é exato, expulsar a pobreza do país, mas os outros libertam as almas da tirania do demônio.

O homem possuído de tão maligno espírito não pensa em recorrer ao soberano para que o liberte, procurando, pelo contrário, a cela de um anacoreta. Foi aos rogos de Elias que Acab aguardou o fim da fome, e, seguindo-lhe o exemplo, inúmeros outros reis dos judeus recorreram aos profetas, nas suas desventuras. Contudo, a diferença entre o rei e o monge surge melhor na morte. O monge, que despreza tudo quando prende os homens à vida, deixa-a sem pesar, ao passo que é terrível aos reis a morte. O solitário sai deste mundo para receber a recompensa das suas virtudes; os reis, se mal se houveram no governo dos seus países, não abandonam esta vida senão para, na outra, ser entregues a inconcebíveis suplícios. Por conseguinte, quando virdes, conclui São Crisóstomo, um varão poderoso, ricamente trajado, montado em magnífico carro, não digais que tal varão é venturoso, pois lhe é efémera a ventura.

Pelo contrário, quando encontrardes um solitário, de aspecto humilde e modesto, e cuja serenidade de espírito se lhe pinta no rosto, dizei que é verdadeiramente feliz, e desejai tornar-vos semelhante a ele.

Havendo Crisóstomo tombado gravemente enfermo na gruta em que vivia, voltou para a cidade de Antioquia em 387, a fim de recobrar as forças. No mesmo ano, São Melécio, bispo de Antioquia, o ordenou diácono. Cinco anos mais tarde Flaviano o elevou ao sacerdócio e o fez seu vigário e pregador. Não cessou de compor opúsculos de piedade, de escrever e pregar homilias sobre o Velho e o Novo Testamentos, sermões contra os judeus, contra o gentio, contra os arianos, panegíricos dos santos cuja festa se celebrava durante o ano.

Era Antioquia uma cidade de prazer e dissolução. É o que se percebe, em particular, pelas palavras de São Crisóstomo. Numa população de duzentas mil almas, constituíam os cristãos pouco mais da metade. Aplaudiam a eloquência de Crisóstomo, mas nem por isso se tornavam melhores. Vários dentre eles nunca tinham visto uma igreja; outros abandonavam as assembléias sagradas para irem ao teatro contemplar prostituídas que ofereciam os mais obscenos espetáculos. Em 26 de fevereiro de 387 mudou a cidade subitamente. Ao anúncio de um novo imposto, verificou-se terrível sedição. Insultou-se o nome do imperador Teodósio, rasgaram-se-lhe as imagens, derrubaram-se estátuas, a de seu pai, de sua mulher, de seus filhos, despedaçaram-se e arrastaram-se os destroços pelas vias. Tudo isso durou apenas uma manhã. A revolta começara ao raiar do dia; reinava a calma. Aquela calma, porém, tinha tudo de sombrio e lúgubre.

O imperador Teodósio era bondoso, mas terrível nos seus primeiros impulsos. Todos temiam que aniquilasse a cidade de ponta a ponta. Era possível censurar aos magistrados nada haverem feito para impedir o crime, e eles tanto mais implacáveis. Antioquia já não era a mesma cidade. Nada mais se via de alegre, não havia jogos, nem festins, nem devassidões, nem canções nem danças lascivas, nem distrações tumultuosas. Só se ouviam preces e salmos. O teatro estava abandonado; passavam-se os dias inteiros na igreja, onde os corações mais agitados repousam no seio do próprio Deus. A cidade inteira parecia ter-se tornado um mosteiro.

O povo dirigiu-se ao bispo Flaviano, para que intercedesse por ele. O bispo partiu, realmente, para Constantinopla, a fim de abrandar a cólera do imperador e lograr o perdão de Antioquia. À espera, Crisóstomo continuou a pregar ao povo, calmando-lhe os temores e enxugando-lhe as lágrimas, e foi principalmente a ele que se deveu a tranquilidade em que Antioquia se manteve no meio dos diversos alarmes sobrevindos. Proferiu, durante tal intervalo, vinte discursos, comparáveis a tudo quanto Atenas e Roma produziram de mais eloquente. A arte é neles maravilhosa. Incerto sobre o partido que iria tomar Teodósio, mescla a esperança do perdão e o desprezo da morte, e dispõe os ouvintes a receber com submissão e sem incômodo as ordens da Providência.

Entra sempre com ternura nos sentimentos dos concidadãos, mas releva-os e fortifica-os. Nunca os detém por demasiado tempo no caminho das suas desditas; não tarda em transportá-los da terra ao céu. Para distraí-los do temor presente, inspira-lhes outro mais vivo; ocupa-os com a recordação dos vícios, insta com eles para que se corrijam, sobretudo em se tratando da blasfémia, e mostra-lhes o braço de Deus erguido sobre as suas cabeças, e infinitamente mais temível que o do príncipe.

Em tal calamidade, viu o povo de Antioquia chegarem consoladores inesperados. Não eram os filósofos pagãos, que haviam fugido desde o primeiro instante, para se não verem envolvidos na ruína comum. Eram os anacoretas das montanhas vizinhas, os quais entraram, então, na cidade, a fim de obterem o perdão do povo, ou morrer com ele. Intercederam com os magistrados, e, com os sacerdotes e bispos, opuseram-se às execuções, até que se recebesse a resposta do imperador. Chegou finalmente a resposta: Teodósio, por amor a Deus e a rogo do bispo, perdoava à cidade inteira.

No ano de 397, foi Crisóstomo eleito bispo de Constantinopla, mediante o consentimento unânime do povo e do clero, e com aprovação do imperador Arcádio. Mas sabia-se como era amado em Antioquia e como era fácil comover-se o povo daquela cidade. O imperador escreveu, pois, ao conde do Oriente que o enviasse sem espalhafato. O conde, recebendo a missiva, rogou a Crisóstomo que o fosse visitar, como se se tratasse de uma questão qualquer, numa igreja de mártires fora de Antioquia. Lá, mandando que montasse no casse conduziu-o imediatamente até certo lugar, onde o deixou entre as mãos dos oficiais do imperador, que o levaram a Constantinopla.

Mal o novo bispo falou na sua igreja, estabeleceu-se entre ele e o povo um recíproco afeto. Não vos falei senão uma vez, disse no segundo discurso, e já vos estimo como se houvesse sido criado entre vós, desde o começo; já estou unido a vós pelos laços da caridade, como se me fora dado há longo tempo desfrutar das doçuras do vosso trato. Vem isso não de ser eu sensível à amizade, mas de serdes vós estimáveis acima de todos. Quem não admiraria o vosso zelo de fogo, a vossa caridade sem fingimento, o vosso afeto pelos que vos ensinam, a vossa concórdia mútua, coisas que bastariam para vos conciliar uma alma feita de pedra? É por isso que vos não amamos menos que esta igreja na qual nascemos, fomos criados e instruídos. Esta é irmã daquela, e vós provais tal parentesco pelas obras. Se a outra é mais antiga no tempo, esta é mais fervorosa na fé; lá existe uma assembléia mais numerosa e um teatro mais famoso; mas aqui se percebe mais constância e coragem.

Vejo aqui os lobos rodear, por todos os lados, as ovelhas, e, entretanto, não diminui o redil. Tais lobos eram as diversas espécies de hereges, marcionitas, maniqueus, aos quais se podem acrescentar os judeus e os pagãos, que, ainda então, não constituíam pequeno número em Constantinopla.

Hávia na grande cidade, capital de todo o império do Oriente, inúmeras desordens e grandes escândalos. São Crisóstomo empreendeu a reforma. E conseguiu-a pelo exemplo de uma vida santa, pelo ardor do zelo e pela força da eloquência. No entanto, o seu zelo apostólico indispôs contra ele, não o povo, senão várias personagens poderosas, sobretudo a imperatriz. Mandou ela que, por duas vezes, o depusessem alguns bispos, e por duas vezes fosse exilado pelo imperador. A deposição era nula. A velha regra, desde então, até no Oriente, era hão poder ser nenhuma questão de maior importância concluída na Igreja sem a autoridade do Pontífice romano. Ora, o santo papa Inocêncio, primeiro do nome, a quem se escrevia de uma parte e de outra, jamais aprovou a deposição de São Crisóstomo, considerou-o sempre o único bispo legítimo de Constantinopla e lhe escreveu como a irmão e colega, para exortá-lo à paciência, ao mesmo tempo em que tratava como intruso o sucessor que lhe fora dado.

Enquanto o chefe da Igreja consolava os fiéis católicos de Constantinopla, dava a Providência aos cismáticos advertências de outro gênero. Sucederam-lhe vários acidentes considerados, punições divinas, pela perseguição instigada contra São Crisóstomo. Em 30 de setembro do mesmo ano de 404, caiu, em Constantinopla e nas cercanias, uma chuva de pedras do tamanho de nozes. No dia 6 de outubro seguinte, a imperatriz Eudóxia morreu pelo parto de uma criança morta. Cirino, bispo de Calcedônia, que sempre censura São Crisóstomo, morreu do ferimento que lhe causou São Marutas pisando-lhe, por descuido, o pé. Tiveram de amputar-lhe várias vezes a perna; o mal estendeu-se à outra perna, depois ao corpo inteiro, e tornou-se irremediável. Outros morreram de várias mortes ou foram afligidos por horríveis doenças; um deles, caindo de uma escada, morreu; outro foi torturado pela gota nos pés; outro morreu subitamente, exalando insuportável fedor; outro teve as entranhas queimadas por lenta febre, com dores de cólicas contínuas, e, fora, insuportável comichão; outro teve os pés inchados por hidropisia; outro sofreu de gota nos quatro dedos com os quais subscrevera; outro viu o baixo ventre inchar-se e a parte vizinha corromper-se, com enorme infecção e produção de vermes; outros supunham ver, de noite, cães enfurecidos e bárbaros, de espada na mão, dando gritos medonhos; um deles, caindo do cavalo, quebrou a perna direita e morreu imediatamente; outro perdeu a palavra e durante oito meses ficou acamado, sem mesmo conseguir levar a mão à boca; outro, tendo a língua tão inchada que lhe ocupava a boca inteira, escreveu a confissão em tabuinhas.

São Nilo, saído da primeira nobreza, e prefeito de Constantinopla, tornando-se ilustre solitário, escrevia ao imperador Arcádio: como pretendeis ver Constantinopla livre dos frequentes tremores de terra e do fogo do céu, enquanto nela se cometem tantos crimes e o vício reina com tamanha impunidade, após ter sido banida a coluna da Igreja, a luz da verdade, o clarim de Jesus Cristo, o bem-aventurado bispo João. Como quereis que eu conceda preces a uma cidade sacudida pela cólera de Deus, de quem ela só aguarda os raios a todo instante, eu que estou aniquilado de tristeza, que sinto o espírito agitado e o coração dilacerado pelo excesso dos males que se cometem presentemente em Bizâncio.

De resto, o exílio de São Crisóstomo não foi absolutamente estéril para a religião. Não somente dava a todos os séculos vindouros o exemplo de homem acima do mundo e de si próprio, numa palavra o exemplo de verdadeiro bispo; não somente entretinha uma correspondência ativa com os principais membros do seu clero e do povo para manter a ordem, reavivar o zelo, reanimar a caridade para os pobres, como também se empenhava na propagação da fé entre os infiéis. Enviou missionários aos godos, à Pérsia e à Fenícia, e alcançou, por intermédio de tais varões apostólicos, a conversão de grande número de idólatras. O sacerdote Constâncio, que o ambicioso Porfírio havia expulsado de Antioquia, fê-lo São Crisóstomo superior geral das missões da Fenícia e da Arábia. Numa das missivas à santa Olimpíada, recomenda-lhe o bispo Marutas, por dele precisar para a missão da Pérsia.

São Crisóstomo, sabendo, no exílio, o que se passava no Ocidente, e como se interessavam o papa e os demais bispos pelo seu restabelecimento, escreveu-lhes várias missivas para lhes agradecer. Escreveu particularmente a Venério de Milão, a Cromácio de Aquiléia, a Gaudêncio de Brescia, a Aurélio de Cartago, a Hesíquio de Salona, e em geral aos bispos vindos do Ocidente e aos sacerdotes de Roma. Escreveu, também, a três das mais ilustres damas romanas, dentre as quais a principal era Proba Falconia. Na última missiva que dirigiu ao papa Santo Inocêncio, agradece-lhe o cuidado em defendê-lo, e compara-o a um piloto cuja vigilância é tanto maior quanto mais profunda é a noite e mais ameaçador o mar. É em vós, acrescenta, que repousa o peso do mundo inteiro, pois tendes de combater simultaneamente pelas igrejas abandonadas, e pelos povos dispersos, e pelos sacerdotes rodeados de inimigos, e pelos bispos postos em fuga, e pelas constituições de nossos pais, insultantemente pisados.

Os inimigos de São Crisóstomo, sabedores dos grandes bens que ele fazia pela conversão dos infiéis da vizinhança, e como eram famosas as suas virtudes em Antioquia, resolveram enviá-lo ainda mais longe. Mandaram, portanto, à corte, e obtiveram do imperador Arcádio uma ordem mais rigorosa para o transferir, e imediatamente, para Pitionto, paragem deserta do país dos Tzanas, nas margens do Ponto Euxino. Era longa a viagem e durou três meses, embora os dois soldados do prefeito do pretório que conduziam o santo bispo o apressassem extremamente, afirmando que aquelas eram as ordens recebidas. Um deles, menos interessado, lhe testemunhava alguma humanidade como que às furtadelas; quanto ao outro, porém, era tão brutal que se ofendia com as carícias feitas para que poupasse o santo. Mandava-o sair com a mais forte das chuvas, e desafiava o maior ardor do sol, sabendo que o santo, calvo, se sentiria incomodado. Não lhe permitia deter-se um instante sequer nas cidades ou nas aldeias que dispunham de banhos, temeroso de que se valesse de tal alívio.

Ao se aproximarem de Comana, foram além, sem deter-se, e ficaram fora numa igreja que se situava a cinco ou seis milhas, dedicada a São Basilisco, bispo de Comana, que sofrera o martírio em Nicomédia, sob Maximino-Daia, com São Luciano de Antioquia. Estando alojados nas dependências da igreja, apareceu São Basilisco, de noite, a São Crisóstomo e disse-lhe: "Coragem, meu irmão João, amanhã estaremos juntos!" Contava-se até que o predissera ao sacerdote que lá vivia, dizendo: preparai o lugar a meu irmão, pois ele vem! São Crisóstomo, certo da revelação, rogou, no dia seguinte, aos guardas que lá permanecessem até onze horas da manhã; mas não viu o pedido outorgado. Partiram, e caminharam cerca de légua e meia, após o que foi preciso voltar à mesma igreja de que tinham partido, de tal modo passava mal São Crisóstomo. Chegado, mudou de vestes e cobriu-se inteiramente de branco, até o calçado, estando ainda em jejum. Distribuiu aos presentes o pouco que lhe restava e, tendo recebido a eucaristia, fez a derradeira prece perante todos e acrescentou estas palavras, que tinha o costume de dizer: "Deus seja louvado por tudo!". Em seguida, falou: "Amém!" estendeu os pés e entregou a alma. Houve no seu funeral tão grande concurso de virgens e de monges da Síria, da Cilícia do Ponto e da Armênia, que era como se tivessem combinado encontrar-se.

A celebração foi a de mártir, e o seu corpo sepultado ao lado do corpo de São Basilisco, na mesma igreja. O sucessor de São Pedro, que o defendera durante a vida, defendeu-o após a morte, e não admitiu à sua comunhão os bispos de Constantinopla, Antioquia e Alexandria, senão depois de haverem restabelecido a memória do falecido e chamado de novo os bispos exilados por sua causa.

No ano de 437, estando São Proclo, novo bispo de Constantinopla a fazer o panegírico de São João Crisóstomo, no dia da sua festa, em 26 de setembro, interrompeu-o o povo por aclamações, exigindo que lhe fosse devolvido o bispo João. Proclo achou, ademais, que era o meio de reunir à Igreja os que se haviam separado por ocasião do santo e que ainda realizavam separadamente as suas assembléias.

Falou do assunto ao imperador Teodósio o jovem, e persuadiu-o a mandar trazer o corpo do santo bispo de Comana, ao Ponto, onde fora sepultado. Efetuou-se a trasladação; o povo foi na frente; o mar do Bósforo cobriu-se de barcos e iluminou-se de archotes, como quando ele foi chamado do primeiro exílio. O imperador aplicou os olhos e o rosto no relicário, pedindo perdão pelo pai e pela mãe, os quais tinham ofendido o santo, desconhecendo o que faziam. As relíquias foram transferidas para Constantinopla publicamente, com grande honra, e depostas na igreja dos Apóstolos em 27 de janeiro de 438, dia em que a Igreja latina celebra a festa de São Crisóstomo.
Fonte: Pe. Rohrbacher, Tomo II

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