O capuchinho dos estigmas
Na vida do padre Pio, o sobrenatural é muito
abundante: conversões, milagres, curas, bilocação, clarividência,
predição, sem falar dos estigmas que foram, durante cinqüenta anos, a
manifestação mais patente, a mais visível marca do sobrenatural na sua
vida, e também a mais dolorosa e mais incompreensível para os homens, a
que mais respeito merece, pois é com verdadeira graça de conformidade
com Cristo até na carne. Existem numerosos testemunhos circunstanciados
para numerosas destas diversas graças. Foram numerosas as altas
autoridades eclesiásticas e os médicos que testemunharam as curas
milagrosas ou outros fenômenos sobrenaturais inexplicáveis. Em
todos os casos, as graças sobrenaturais não eram concedidas por Deus
para a auto-glorificação do padre Pio, senão para dar testemunho da vida
divina, para chamar À conversão, curar ou aliviar. Não há nem curas,
nem conversões ou bilocações que não acabaram por uma maior vida de fé e
que não serviram para fazer algum bem.
O confessionário foi o lugar habitual dos “milagres”
realizados pelo padre Pio. Nos dias de grande afluência, chegava a
passar dez ou quinze horas confessando. Para alguns penitentes, essa
confissão era ocasião de uma verdadeira mudança interior. Entre as
conversões de antes da primeira perseguição, uma das mais clamorosas foi
a do advogado genovês Cesare Festa. Festa era um dos grandes
dignatários da maçonaria italiana. Era primo do Dr. Giorgio Festa.
Depois que este viu e examinou o padre Pio, mencionou com freqüência ao
religioso e aos prodígios da fé com seu primo Cesare. O advogado ateu,
raivosamente anticlerical, considerava a religião como uma superstição
de outros tempos. Giorgio, tendo esgotado seus argumentos, disse-lhe um
dia: “Vai a São Giovanni Rotondo e encontrarás ali a um
testemunho que acabará de um só golpe com todas as suas objeções. Vai
vê-lo e depois continuaremos falando”.
Em março de 1921, Cesare se dedicou a seguir o
conselho de seu primo. Foi a São Giovanni Rotondo mais como cético, foi
com a firme intenção de desmascarar a impostura e denunciar ao seu
regresso, diante de seus irmãos maçons, a superstição de Gargano. O
padre Pio não sabia nada de Cesare Festa nem de sua pertença maçônica.
Sem embargo, quando chegou na sacristia do convento entre outros
peregrinos, o religioso se dirigiu até ele e o interpelou brutalmente: “Que
quer este entre nós? É um maçom…”. O advogado não negou. O padre Pio
analdiu: “Que papel desempenha você na Maçonaria?”. Festa respondeu sem
vacilar: “Lutar contra a Igreja”.
As coisas estavam claras. O padre Pio não analdiu
nenhuma palavra. Mirou fixamente a Cesare e lhe indicou com o dedo o
confessionário. O advogado maçom se ajoelhou, abriu seu coração e, com a
ajuda daquele sacerdote ao que poderia resistir, examinou toda a sua
vida passada. Um perfume desconhecido e suave passava pela rede do
confessionário e o ateu Festa via suas prevenções contra a religião cair
uma atrás da outra. A conversão resultou numa paz interior que o
invadia e lhe fazia receber as palavras de misericórdia e as exortações
prodigadas por aquele estranho capuchinho.
Permaneceu três dias no convento e depois regressou a
Genova. O ruído de sua conversão se estendeu e ocupou a primeira página
dos periódicos. O advogado arrependido foi logo a Lourdes e depois
voltou a São Giovanni Rotondo para receber das mãos do padre Pio o
escapulário da Ordem terceira franciscana. Da maçonaria À Ordem terceira
em poucos meses. O papa Bento XV recebeu no Vaticano a esse assombroso
convertido. Disse-lhe a estima que tinha ao padre Pio, apesar dos
informes por vezes desfavoráveis que haviam chegado, e confiou esta
missão a Cesare Festa:
– O padre Pio é verdadeiramente um homem de
Deus. Comprometa-se a dar testemunho, porque ele não é apreciado por
todos como ele merece.
A clamorosa conversão de cesare Festa suscitou muitas
controvérsias. O Avanti, cotidiano socialista, ironizou sobre este
maçom que passava seu tempo entre São Giovanni Rotondo e Lourdes. A
Grande Loja italiana se reuniu para pronunciar a exclusão oficial do
advogado renegado dos ideais maçônicos.
Cesare Festa decidiu assistir, fazer frente e dar a
conhecer seu testemunho: no dia da reunião recebeu uma tarjeta do padre
Pio com estas quatro linhas: “Não se envergonhe de Cristo e de
sua doutrina; é momento de lutar com o rosto descoberto. O Dispensador
de todo o bem te dará a fortaleza para isso.”
(Yves Chiron: El Padre Pío. Ed. Palabra, pg.163, 1999.)